19 abril 2006

Raciocinando sem pensar

Assim como caminhamos sem pensar, raciocinamos sem pensar! Não sabemos como nossos músculos nos fazem andar- também não sabemos grande coisa a respeito das agências que realizam nosso trabalho mental. Quando você tem um problema difícil para resolver, pensa sobre ele por algum tempo. Em seguida, sabe-se lá, a resposta parece surgir de estalo e você diz: "Ah! já sei, Farei isto e aquilo". No entanto, se alguém lhe perguntasse como encontrou a solução, dificilmente seria capaz de dizer mais coisas do que as que se seguem:

"De repente me dei conta..."

"Sei lá, tive esta idéia..."

"Passou-me pela cabeça..."

Se pudéssemos realmente perceber o trabalho de nossas mentes, não agiríamos com tanta freqüência segundo motivos que nem suspeitamos. Não contaríamos com tão variadas e conflitantes teorias para a psicologia. E quando nos perguntam como alguém consegue suas boas idéias, não nos veríamos reduzidos a metáforas sobre "ruminar", "digerir", "conceber" e "dar origem" a conceitos como se nossos pensamentos estivessem em qualquer outro lugar exceto na cabeça. Se pudéssemos ver dentro de nossas mentes, teríamos, sem dúvida, coisas mais úteis para dizer. Muita gente parece estar absolutamente certa de que nenhum computador poderia, jamais, ser dotado de sensação, percepção, ter vontade própria, ou ter "consciência" dele mesmo de qualquer outra forma. No entanto o que faz todo mundo ter tanta certeza de que pessoalmente possui todas estas qualidades admiráveis? É verdade.que se temos certeza de alguma coisa, esta é que "Sinto... portanto sinto". Contudo, o que significam, realmente, estas convicções? Se a autopercepção significa saber o que está se passando dentro da própria mente, não haveria um único realista que pudesse declarar, por muito tempo, que os seres humanos possuem muita percepção, no sentido literal de ver lá dentro.

Na verdade, a evidência de que somos autoconscientes - isto é, que possuímos uma aptidão especial qualquer para descobrir o que está acontecendo dentro de nós mesmos - é, na realidade, muito fraca. É verdade que certas pessoas são especialmente formidáveis para assessorar as atitudes e motivações de outras pessoas (e, mais raramente, delas mesmas). Porém, isto não justifica a crença de que o modo como aprendemos coisas sobre os seres humanos, inclusive nós mesmos, é fundamentalmente diferente da maneira como aprendemos a respeito de outras coisas. A maioria dos conhecimentos que denominamos "percepções" são meras variações de nossos outros modos de "imaginar" o que está acontecendo.

Página 63 de MINSKY, Marvin. The Society of the Mind. New York: Simon Schuster, 1985.

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