17 abril 2006

CONHECIMENTO TÁCITO

"Nós podemos saber mais do que podemos contar", escreveu o filósofo de ciência Michael Polanyi há 50 anos. Em seu livro, Criação de Conhecimento na Empresa, Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi constroem sobre as noções de Polanyi de "conhecimento tácito" uma distinção entre conhecimento explícito e tácito - uma distinção útil para qualquer um desenvolvendo infra-estrutura para aprendizagem organizacional. Quando Polanyi, Nonaka e Takeuchi utilizam o termo, "conhecimento explícito", ele é dito em linguagem e números; ele pode ser codificado e transmitido, precisamente porque foi analisado e separado em partes discretas. Um exemplo é um livro de jurisprudências, que traça os precedentes em uma ordem precisa, com índices e referências cruzadas.

Os elementos cruciais para que as coisas sejam realizadas são os modelos mentais, premissas, habilidades e capacidades - dos quais geralmente não temos muita consciência, e os quais Polanyi chama de conhecimento tácito. A palavra "tácito" vem do verbo latim tacere, ficar em silêncio. (As palavras "taciturno" e "reticente" vêm da mesma raiz.) Uma jovem recém-saída da escola de Direito que há pouco começou a trabalhar em uma empresa pode achar que está "agindo como uma advogada" sem jamais ter tomado uma decisão consciente de parar de "agir como uma aluna." Ela aprende os comportamentos de sua nova profissão reunindo todos eles, tanto deliberada quanto inconscientemente. Ela observa outros advogados; percebe os momentos de seu próprio sucesso e, continuamente, chega a conclusões sobre "as maneiras como os advogados fazem as coisas."

Tudo isso representa um componente crítico de seu conhecimento de advogada; tão vital para seu sucesso como seu conhecimento de casos. Ela jamais poderia aprender este tipo de conhecimento tácito em uma sala de aula ou lendo um livro. Ela só pode aprender isso fazendo parte de uma comunidade de advogados atuantes, experimentando novos comportamentos, observando os resultados e, gradualmente, assimilando esse conhecimento em seu próprio comportamento até que ela não esteja nem mais consciente do porquê de seu comportamento mudar. Isso ilustra como o conhecimento é gerado nas comunidades atuantes - a fonte da noção de "comunidades de prática."

É importante entender que o conhecimento tácito nunca pode ser reduzido a conhecimento explícito. Na verdade, falar sobre "conversão de conhecimento tácito em explícito" reflete uma compreensão superficial da própria noção de tácito. Como disse um pesquisador recentemente, "Eu entendo que na corporação XYZ, a gerência diz que está reunindo o conhecimento tácito da organização. Espero que tenham uma sacola bem grande." Em última análise, contemplar o significado mais profundo do conhecimento tácito leva a reconhecer as sutilezas do que significa "saber" para os humanos.

Extraído de SENGE, Peter.  A Dança das Mudanças: o desafio de manter o crescimento e o sucesso em organizações que aprendem. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1999.

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